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Brasil sedia Congresso Internacional de Matemática

Começou hoje, 1º de agosto, no RioCentro, no Rio de Janeiro, o Congresso Internacional de Matemáticos (ICM 2018, na sigla em inglês), que vai reunir, até o dia 9 de agosto, cerca de 2.500 pesquisadores dos cinco continentes. A agenda terá 1.200 palestras, painéis de debates e comunicações, além de 40 eventos científicos paralelos em todo o país, como o World Meeting for Women in Mathematics, realizado ontem, 31 de julho.

 

O primeiro ICM foi realizado em 1897, em Zurique, Suíça. Ele é organizado a cada quatro anos pelo país-sede em parceria com a União Matemática Internacional (IMU). Esta é a primeira vez que o encontro ocorre em um país do hemisfério sul. No Brasil, o evento integra o Biênio da Matemática do Brasil 2017-2018, parte das ações nacionais e internacionais destinadas, entre outros objetivos, a incentivar o estudo da disciplina, popularizá-la e promover atividades que contribuam para aproximá-la do público.

 

O diretor geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), Marcelo Viana, também presidente do Comitê Organizador do ICM 2018, explica que o Brasil passa por um momento histórico e de reconhecimento do avanço das pesquisas na área conquistadas pelo país. “Há 70 anos, praticamente não havia pesquisa em matemática no país. [O avanço] já foi reconhecido no começo do ano quando o Brasil foi promovido ao grupo 5, o grupo máximo da União Matemática Internacional, que reúne as 11 nações mais avançadas na área”, afirma.

 

Para Viana, a escolha do Brasil como sede também faz parte desse reconhecimento. Ele destaca que o objetivo principal do ICM 2018 é ser um instrumento para ajudar a popularizar a matemática e torná-la mais próxima da sociedade. “Estamos convidando escolas para participar do evento, com atividades desenhadas para crianças e professores, e acredito que vai ser um grande sucesso, vai ter um impacto significativo nessa aproximação da matemática com a sociedade brasileira. O Biênio foi a realização desse objetivo que nós tínhamos já ao apresentar a candidatura para o congresso, é um evento charmoso, que chama a atenção”, argumenta.

 

Durante nove dias, haverá mesas redondas sobre temas como distribuição de gênero, história da matemática, desenvolvimento da matemática nos países em desenvolvimento e o impacto que a tecnologia tem na matemática.  “Uma pergunta que está começando a assustar a gente é se máquinas vão ser capazes de provar teoremas daqui a pouco, isso vai causar desemprego generalizado na minha tribo. São discussões normalmente com conteúdo técnico. Mas algumas têm pretensões políticas, como a questão da publicação, porque quando o matemático publica, ele não ganha nada com isso e cede os direitos para as editoras, que ganham bastante dinheiro com isso”, diz Viana.





Popularização da ciência

 

Entre as atrações do ICM 2018, estão palestras para ajudar na popularização da ciência. A diretora de divulgação científica do Instituto Serrapilheira, um dos apoiadores da iniciativa, Natasha Felizi, explica que foram selecionados pesquisadores que tenham habilidade de comunicação com o público.

 

Serão cinco palestras abertas ao público, com os franceses Cédric Villani, ganhador da Medalha Fields 2010, e Étienne Ghys, pesquisador honorário do IMPA e vencedor do Prêmio Clay de Divulgação Científica; a belga Ingrid Daubechies, da Duke University (EUA), conhecida pelo trabalho inovador aplicado às comunicações modernas; o japonês Tadashi Tokieda, da Universidade Stanford, que falará sobre a Matemática dos Brinquedos, e o português Rogério Martins, da Universidade de Lisboa, apresentador do programa de TV “Isto é Matemática”.

 

Outro lado do ICM 2018 é o apoio para a participação de matemáticos de países pobres. Neste ano, o programa Braços Abertos, uma tradição do congresso e responsabilidade do anfitrião, ofereceu 630 bolsas para matemáticos da África, Europa do Leste, América Latina e Ásia-Pacífico e mais 250 para brasileiros.

 

 

Nobel da Matemática

 

Foram revelados na manhã de hoje, 1º de agosto, os quatro ganhadores da Medalha Fields, a mais importante premiação da matemática mundial, conhecida como “Nobel da Matemática” e entregue aos destaques da área com menos de 40 anos. O prêmio é dado a cada quatro anos, durante o Congresso Internacional de Matemáticos (ICM), que, pela primeira vez, é realizado no Brasil.

 

Nascido na Índia em 1981, Akshay Venkatesh cresceu na Austrália e atualmente é professor no Instituto de Estudos Avançados, na Universidade de Stanford e na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, onde fez o doutorado em 2002. Sua pesquisa é na área de teoria dos números e tópicos relacionados. Já o italiano Alessio Figalli, 34 anos, trabalha na área de cálculo de variações e equações diferenciais parciais. É professor na ETH em Zurich, na Suíça.

 

O mais velho agraciado é Caucher Birkar, de 40 anos, professor na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Iraniano, Birkar pesquisa a área de geometria algébrica. Já o ganhador mais novo da edição 2018 é o alemão Peter Scholze, de 30 anos, professor na Universidade de Bonn, na Alemanha, onde faz parte do grupo de trabalho de geometria algébrica aritmética.

 

Entre os vencedores da Medalha Fields entregue em 2014 estava o brasileiro Artur Ávila, pesquisador do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, primeiro latino-americano e lusófono (cuja língua oficial ou dominante é o português) a receber o prêmio. Os outros premiados de 2014 foram o norte-americano Manjul Bhargava, o austríaco Martin Hairer e Maryam Mirzakhani, primeira mulher e primeira iraniana a receber o prêmio. Ela morreu no ano passado, vítima de câncer de mama.





Encontro Mundial para Mulheres em Matemática

 

Integrando a programação do Congresso Internacional de Matemáticos (ICM 2018, da sigla em inglês), o Rio de Janeiro recebeu ontem, 31 de julho, o primeiro Encontro Mundial para Mulheres em Matemática (em inglês, World Meeting for Women in Mathematics - (WM)²). A organizadora do evento no Brasil, a pesquisadora do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) Carolina Araújo, disse que, pela primeira vez, a discussão de gênero entrou no debate. Segundo ela, encontros de mulheres matemáticas foram realizadas nas últimas duas edições do ICM, mas o foco era apenas a pesquisa científica desenvolvida por mulheres.

 

“Um momento de muita dificuldade na carreira profissional das mulheres é o momento da maternidade, na maioria dos países, onde esse papel em geral socialmente acaba recaindo sobre a mãe mesmo. É um momento em que as mulheres são muito impactadas na carreira e muitas vezes esse impacto vai ter um efeito para o resto da vida profissional da mulher”, diz Carolina. De acordo com ela, a discussão busca iniciativas para não perder essa cientista que virou mãe, “porque são talentos que podem contribuir para a ciência e que a gente perde se não fizer alguma coisa”.





Legado

 

Para fechar o Biênio da Matemática no Brasil, ocorre a segunda fase da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), em setembro. Segundo Viana, para além do biênio, o Impa pretende tornar bienal o Festival da Matemática, realizado em abril do ano passado, no Sesc, na Escola Eleva e na Nave do Conhecimento, no Engenhão, no Rio de Janeiro.

 

“A experiência de organizar o primeiro foi muito gratificante, mas também nos ensinou muita coisa, a gente não tinha ideia, era um evento completamente diferente começar a falar em colocar matemática e diversão juntos. O segundo vai ser ainda melhor que o primeiro, queremos que tenha mais participação da iniciativa privada e desenvolva novas dimensões que o festival pode fazer para popularizar a matemática. Então, o biênio certamente vai deixar um legado”, finaliza Viana.

 

 

Informações: Agência Brasil

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