Notícias

Especialistas defendem mais subsídios, para aumentar a produção orgânica no Brasil

O processo de transição para produção de alimentos mais sustentável no Brasil, do ponto de vista ambiental, econômico e social, depende de subsídios do governo federal para que se estabeleça diante do modelo convencional da monocultura e produção em larga escala com concentração de terra e utilização de agrotóxicos.

 

Essa transição, chamada de agroecológica, está prevista na Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO), instituída por decreto federal em 2012. A política não só deixa de utilizar agrotóxicos, mas privilegia a conservação ambiental, a biodiversidade, os ciclos biológicos e a qualidade de vida dos produtores e dos consumidores.

 

A Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), do governo federal, oferece uma linha de crédito de investimento para agroecologia, o Pronaf Agroecologia, concedida a agricultores familiares que apresentarem projeto técnico para sistemas de produção de base agroecológica. No entanto, o agricultor tem que devolver o valor em até dez anos com encargos financeiros de 2,5% ao ano.





Acesse nosso guia online de empresas e profissionais: LINCE EMPRESAS!





Agroecologia

 

O coordenador-geral de Agroecologia e Produção Sustentável da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), Marco Pavarino, considera o Pronaf Agroecologia como o crédito rural mais barato que existe atualmente e pode ser quitado em até dez anos. “[O percentual de] 2,5% é quase juros negativo se a gente for computar a inflação e ele tem um período de até três anos de carência [para começar a pagar]”, disse Pavarino, informando que outras políticas são importantes para expansão da produção mais sustentável de alimentos, como a oferta de assistência técnica aos agricultores que é feita pela Sead.

 

A engenheira agrônoma e especialista do Greenpeace em Agricultura e Alimentação, Marina Lacôrte, destacou a importância de se implantar um modelo de produção de alimentos que sobreviva no longo prazo “urgentemente”, defendendo também que haja incentivos fiscais e econômicos para que a transição agroecológica aconteça no país. Para Marina Lacôrte, o modelo convencional (de monocultivo e uso de agrotóxicos) não se sustentará. “Além de um problema de saúde da população, a gente tem um problema de insegurança alimentar, porque à medida que [o atual modelo de produção] esgota e degrada os recursos que ele vai precisar lá na frente para produzir, isso nos gera essa insegurança”, avaliou.

 

Marco Pavarino ressaltou que a produção orgânica exige também a utilização de tecnologia para controle de pragas, capacitação de agentes de assistência técnica e organização de cadeias produtivas, que ainda não estão tão estruturadas como no agronegócio. “Hoje é muito fácil produzir e comercializar soja ou carne, o que não acontece com alguns produtos orgânicos”, afirmou Pavarino, defendendo mais investimentos específicos para a produção orgânica. “Poderíamos fazer muito mais se tivéssemos mais recursos, mas com os recursos que temos, conseguimos impactos bastante significativos”.





Sem-terra

 

Das 400 mil famílias assentadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), aproximadamente 60 mil produzem no modelo agroecológico. As demais 340 mil famílias se encaixam na chamada transição agroecológica, no sistema tradicional, que não usa técnicas da agroecologia nem utiliza agrotóxicos, inclusive de forma residual, até no modelo de agricultura convencional.

 

Luiz Zarref, um dos coordenadores do setor de Produção, Cooperação e Meio Ambiente do MST, defendeu uma nova política de subsídio do governo. Segundo ele, o “grande gargalo” é o financiamento. “Para se fazer o que chamamos de transição agroecológica, que é essa mudança do sistema convencional para o sistema agroecológico, normalmente se tem uma queda de produção nos dois, três primeiros anos. Então não faz nenhum sentido que, para se fazer essa transição, o agricultor tenha que recorrer a um crédito bancário porque ele não dá conta de pagar”, disse.





Produção orgânica em expansão no Brasil

 

Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, atualmente são 17.075 registros de entidades produtoras de orgânicos no país, das quais cerca de 70% dos produtores são de agricultura familiar. Em 2013, eram apenas 6.700 registros. O último censo do setor, de 2006, mostra ainda que a agricultura familiar participava com 30% do valor bruto da produção agrícola e agropecuária no Brasil, o que representava em torno de R$ 12 bilhões, segundo dados do ministério.

 

Existem dois tipos de certificação para produtores orgânicos: Certificado por Auditoria e Sistema Participativo de Garantia. O ministério tem, atualmente, oito certificadoras credenciadas que fazem a fiscalização das propriedades e assumem a responsabilidade pelo uso do selo brasileiro. Nos Sistemas Participativos de Garantia (SPG), grupos formados por produtores, consumidores, técnicos e pesquisadores se certificam, ou seja, estabelecem procedimentos de verificação das normas de produção orgânica daqueles produtores que compõem o sistema. Tanto as certificadoras quanto os SPG precisam ser credenciados no Ministério da Agricultura.

 



Informações: Agência Brasil





Leia também:



União Europeia aprova novas regras para os orgânicos



O mercado para os produtos orgânicos está aquecido



Adicionar Comentário