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Seguir adiante como?

Hoje, dia 12 de setembro, completa uma semana que cidades gaúchas na serra e no Vale do Taquari foram assoladas pelas águas. Uma semana que o Rio Grande do Sul e o país pararam para ouvir, olhar, compartilhar dores e amparar. Uma semana que pudemos perceber que haverá coisas, dores e perdas que o tempo não conseguirá curar, amenizar ou restaurar. Independentemente disso, percebemos também o tamanho da rede de apoio que se desenvolveu parar abraçar e ajudar quem perdeu tudo.  

Às vezes, acontecimentos nos surpreendem e nos fazem pensar em como a vida é frágil diante da força da natureza. Aquela que vem sem avisar, com uma força intangível. Aquela que destrói, que leva embora bens, animais, vidas e sonhos. A natureza é implacável e imparável, não há quem ou o quê contra ela. Nós somos apenas habitantes, testemunhas e vítimas de sua força.  

Nos últimos dias fomos impactados com notícias sobre as enchentes que destruíram cidades do Vale do Taquari ocorridas nessa primeira semana de setembro. Junto com as informações que recebemos e com os relatos que ouvimos, partilhamos um pouco do sofrimento, do medo, da tristeza e da sensação de impotência com quem perdeu tudo diante de tamanha devastação. Fomos, mais uma vez, testemunhas de uma grande tragédia no Rio Grande do Sul.  

A natureza mostrou-se imponente sobre o ser humano. Desgarrou famílias. Feriu cidades. Matou animais. E sobre a vida que se manteve deixou sofrimento e tristeza. Adjetivos estes que, tenho certeza, são demasiado pequenos para mensurar o que de fato é o sentimento para quem está sofrendo na pele a realidade dos fatos. Assim sempre foi e sempre será: podemos (e devemos) ter empatia sobre a situação e com as pessoas, mas jamais teremos vivido o que viveram. Isso me faz lembrar de uma frase do livro A menina que roubava livros, do escritor australiano Markus Suzak, que diz: “quando a morte conta uma história você tem de parar para ouvi-la".  

Associando essa frase às muitas pessoas que ouvi descreverem o cenário como “de guerra” penso e acredito que o estado e o país inteiro tenham parado para ouvir essa história. Essa grande história com centenas de outras histórias de moradores do Vale do Taquari, que, contadas ou não, foram e são vividas.  E, ao pararem para ouvir essas histórias, pessoas do país inteiro comoveram-se e empenharam-se para ajudar.  

Diversas estão sendo as iniciativas de solidariedade para com o Vale do Taquari. Campanhas para arrecadação de roupas, alimentos, produtos de limpeza e higiene pessoal estão mobilizando milhares. Neste final de semana, muitas pessoas de municípios vizinhos aos atingidos pelas enchentes se deslocaram até as cidades mais afetadas para auxiliar na limpeza e, ainda, oferecer amparo e um pouco de carinho àqueles que perderam tudo.  

Perder tudo... 

Ouvindo cada história que reportam através dos meios de comunicação é impossível não pensar que tudo isso poderia ter acontecido conosco, na nossa cidade, com nossas famílias e conhecidos. Alguns de nós já viveram situações de desespero, desamparo e perdas pelas enchentes do Arroio Forromeco e do Rio Caí, há anos atrás. Famílias conhecidas perderam tudo, mas reergueram-se de uma forma ou de outra. A vida segue e não olha para trás.  

E que nós sigamos ajudando das formas que pudermos. Sigamos ouvindo e dando voz às vítimas. Sigamos tendo sororidade. Sigamos cobrando autoridades por auxílio às vítimas e às cidades, com a restituição rápida de serviços básicos de assistência de saúde, setor jurídico e financeiro. Prefeituras, secretarias de saúde e assistência social, entidades, organizações e empresas de todo o Rio Grande do Sul estão com campanhas de arrecadação de doações ativas. As prefeituras das cidades afetadas também disponibilizam, em suas redes sociais, contas bancárias para arrecadação de doações em dinheiro para amparo às vítimas e restauração das cidades. Informe-se e ajude como puder, com quanto puder.  

Gosto de pensar que se estamos vivos é pelo fato de acreditarmos em algo maior. E é esse crer que nos move, que nos faz viver. Embora tenham perdido tudo, eu acredito e espero que as vítimas da enchente ainda encontrem na solidariedade e no amparo da sociedade motivos para crer e seguir adiante. Ainda que seja pouco diante das proporções e do impacto que esse desastre tenha causado, esta pode ser a centelha de esperança que possivelmente dará continuidade a vida nessas cidades. 

Texto: Camila Tempas 

Foto: Mateus Bruxel 

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